Avenal: génese de um nome
"Restos mozárabes de -N- y -L- conservadas se encuentran hasta en los alrededoresde Coimbra (Avenal en el Concelho de Condeixa, Malga en el Concelho de Coimbra; “ébem possível aliás que outros vestígios semelhantes se encontrem ainda para o Norte doMondego, sobretudo naquela área indecisa entre este e o limite do TerritórioPortucalense que só também com o findar do século XI reentra definitivamente no domínio cristão, passando a gravitar em torno de Coimbra e dos seus mosteiros, particularmente o de Santa Cruz”). “Parece pois não haver dúvida de que o carácterfortemente moçárabe desta zona [Avenal, Malga], já reconhecida no aspecto histórico,se estendia também à linguagem, que não conheceu o fenómeno tão tìpicamente galegoportuguêsda síncope de -l- e -n-. Partindo certamente de Coimbra, definitivamente conquistada em 1064, a ‘portugalização’ linguística terá feito desaparecer ràpidamente essas formas idiomáticas primitivas, de que apenas escassos vestígios se conservam natoponímia, a bem pequena distância aliás do foco inovador”.
Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/cvc/hlp/biblioteca/baldinger.pdf
Avenal e a toponímia do seu termo
Alqueves s.m. acto ou efeito de alqueivar; pequena lavra de uma terra de pousio. Etim: origem duvidosa, provavelmente árabe alqueuê . "terra deserta". (1)
Alqueive. Terra que se lavra para que descanse.
s.m. Estado de uma terra lavrada que se deixa descansar.
Essa mesma terra. O alqueive, outrora indispensável para deixar descansar a terra e livrá-la das pragas, é atualmente em geral substituído pelos adubos e o emprego de plantas mudadas na rotação.
Arquivo sobre a origem e significado do termo Alqueive:
http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/lingua/boletimfilologia/22/boletim22_pag65_71.pdf
Medio tejo e toponimia arabe:
https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/474/1/ManuelSConde_p353-385.pdf
Almoinha. Do baixo-latim alimonia , 'mantimento' (que deu o espanhol limosna , 'esmola', e o inglês alimony , 'pensão de alimentos'). No português antigo, chamava-se almoinha a uma horta ou terra de agricultura de subsistência. Existe a variante Almuinha e o derivado Almoinhas .
Archinhas
Arneiro - o mesmo que arnado. "que tem areia, área sáfara". (1)
Barrosas -
Brejo - terreno alagadiço, lodoso; pântano, paúl. Terreno plano, de extensão mais ou menos considerável, alagadiço ou apaulado, que corre nas cabeceiras ou em áreas de transbordamento de rios. Terreno baixo, plano ou pouco acidentado, situado entre colinas, bem irrigado e fértil. Terreno baixo onde há nascentes. lugar impuro. Terreno agreste onde medram urzes; urzedo. Lugar húmido e frio. (1)
Cavada - Do português antigo cavada , no sentido de 'gruta' ou 'cova'. É bastante frequente em Portugal e na Galiza, assim como os seus derivados Cavadas , Cavadinha e Cavadinhas . Tem a variante Cabada .
Cardal -
Carvalheiras - mata de pequenos carvalhos silvestres. (1)
Pedreiras
Ribeira - terreno baixo, adjacente às margens de um rio e geralmente banhado por ele. (1)
(1) Dicionário Houaiss da língua Portuguesa.
Os nomes do lugar e os respectivos contextos
A microtoponimia fornece um conjunto de referências, a uma escala bastante próxima da real, que se revela indispensável à compreensão da relação que os habitantes foram estabelecendo com o território e como se processou a respectiva ocupação. Os nomes que identificam certas partes do lugar remetem-nos para especificidades locais, para um tempo em que as pessoas estabeleciam uma relação mais próxima e cumplice com o espaço onde se movimentavam, se encontravam mais dependentes do meio natural onde exerciam as actividades e asseguravam a sua subsistência.
O conjunto dos nome por que são vulgarmente conhecidas certas partes do termo do Avenal levam-nos a reflectir e a tentar sistematizar os respectivos significados segundo alguns aspectos bastante interessantes, pondo em evidência que a lenta adaptação do homem ao meio se sedimentou a partir de um saber de experiência feito.
. Povoamento, crescimento "urbano" e ocupação do território. Lugares banais como este raramente são referênciados, pois se a história é feita de vencedores, também a geografia se faz de lugares importantes, com dimensão populacional e económica. É por isso que o Avenal é um lugar oculto, sem espaço em livros, mapas ou, hoje como ontem, na net. O Avenal que domina a blogosfera é um lugar recente, mas que tem o condão de ter surgido no Oeste americano resultado da corrida, não ao ouro mas ao petróleo que o veio substituir.
O nosso Avenal é mais modesto, não aparece citado em livros: o Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal esqueceu-se de o destacar, anexando-o à freguesia de Sebal enquanto outras obras corográficas o juntam aos restantes quatro lugares com o mesmo nome, situados nos concelhos de Cadaval, Caldas da Rainha e Oliveira de Azemeis (...). Foi durante muito tempo um lugar fora do mapa. Só aparece em cartas recentes, quando os meios técnicos permitem mais rigor e escalas de maior dimensão e os poderes públicos, para melhor controlo do espaço e dos homens que nele habitam, conhecer o respectivo reino. Assim surgiu o Avenal nos mapas de 1:100.000, 1:50.000 e 1:25.000 que se dá conta noutro local.
A origem do lugar parece indeterminada, perdida no tempo. Se a descoberta recente de uma quinta com mosaicos romanos, junto ao Serrado, pode indiciar o centro espacial e temporal do lugar, está por averiguar as razões que levaram ao desaparecimento do povoado que teria existido na Ventosa, cuja capela tinha Santiago como orago. Aliás, a capela do Avenal, centro do mundo terreno para a comunidade que em torno dela gravitava, situa-se a uma escassa centena de metros da casa romana, inserida na rede de casas com a mesma função, que os romanos numa estratégia de colonização e controlo dos territórios ocupados, dispersaram numa malha regular a partir de Conímbriga.
A implantação do lugar adoça-se à morfologia, com uma estratégica exposição a sul, ocupando o lugar a parte mais elevada, enquanto a baixa era reservada para se implantarem os moinhos. Nas margens deste centro foram surgindo outros lugarejos, uns que permanecem habitados e, hoje, práticamente ligados ao Avenal, fazendo um contínuum, como os Alqueves, as Carvalheiras e, a sul e além rio, as Pedreiras.
As longínquas Barrosas
Mas existiam
Observando
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